Por: Joana Pereira, autora do blog “Tem juízo, Joana!”
Há quem diga que o tempo está cada vez mais curto. A vida, um remoinho de compromissos e urgências, parece não deixar espaço para pausas. Ainda assim, no meio do caos, há quem insista em abrir um livro, mesmo que por poucos minutos, como quem procura oxigénio numa atmosfera rarefeita.
Ler no dia a dia é um ato de resistência. É atravessar as páginas no intervalo entre uma estação de metro e outra, sentar-se num banco de jardim com um romance nas mãos, ou transformar a espera pelo médico num encontro com personagens que nos levam para mundos distantes. São instantes roubados ao frenesim diário, onde a ficção empresta ao leitor o alívio de um suspiro.
O mais fascinante é como a leitura se adapta aos espaços que a vida oferece. Nas filas, surgem os livros de bolso como aliados contra a monotonia. No transporte público, tablets e e-readers tornam-se discretos portais para os universos paralelos. Mesmo o ruído ao redor não parece ser um empecilho, um bom enredo é capaz de silenciar qualquer tumulto.
No entanto, não é apenas o tempo que molda a leitura no quotidiano. Há também a surpresa dos encontros literários fortuitos. Um parágrafo lido ao acaso pode iluminar um dia inteiro. Uma frase pode arrancar-nos de um estado de apatia e devolver-nos à vida com renovado entusiasmo. Às vezes, o quotidiano parece conspirar para nos entregar exatamente as palavras de que precisamos.
Por outro lado, há aqueles momentos em que a leitura exige um pouco mais de esforço. Após um dia exaustivo, os olhos pesam, e o livro repousa naquele lugar de julgamento como uma promessa não cumprida. Mas, mesmo nessas pausas involuntárias, o hábito permanece, como uma certeza: o livro estará lá amanhã, à espera, paciente e silencioso, enquanto a vida continua a girar.
Talvez a grande beleza de ler no quotidiano seja justamente essa capacidade de encontrar poesia no comum, de transformar os minutos fugazes em algo maior. Porque cada parágrafo lido é uma escolha, uma recusa de ser engolido pelo ritmo impiedoso do relógio.
E assim seguimos, com livros nas mãos, nos bolsos, nas telas – sempre atentos à próxima história, mesmo que só tenhamos um intervalo curto para vivê-la.
Nota: Este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico
Last modified: 12/12/2024