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A palavra resiste

por Luciana J. Morais

A palavra é alma que grita e sorri, morde e beija, enfrenta e abraça. Falada ou escrita, ela canta e voa. Provoca pausas. Provoca revoluções. Ela ama na arte e odeia na revolta. Não se curva e flui. E resiste.

Além de representar uma ideia por meio de letras e sons de uma língua, ela convida à livre expressão, ao genuíno humano que dança ao par de sentimentos, convida ao apreço de compactuar com o diálogo e a liberdade. E resiste.

Chico Buarque diz que palavra boa é a que habita fundo o coração do pensamento e a palavra crua que quer dizer tudo, é anterior ao entendimento. Caetano usa outras palavras para exercer a felicidadania, apesar de toda a dor. Gilberto Gil encanta-nos ao relembrarmos da figura de linguagem que o poeta diz, incontível e inatingível, o poeta faz caber o incabível. E resiste.

A palavra pinta com a voz e a mão escreve, denuncia, liberta, expõe. Ela está no mundo como o ar que o envolve. Está nas entrelinhas, nos títulos, nas metáforas, na subjetividade, no visível. As palavras são arremessadas, entregues em mãos, em bilhetes sujos, em cartas de amor. Impressas, são eternas. São navalhas que não foram feitas para não ferir ninguém, cantava o rapaz latino-americano. Não devem ficar enterradas no corpo pulsante-pensante. A palavra é presente, afeto, poema. E resiste.

Usar a palavra como ato de resistência e lucidez é viver, é combater o caos violento e a desumanização. A palavra está na canção, no manifesto, na literatura. A palavra é a arte de surpreender, é a arma franca que combate a desigualdade. A palavra dá um nó na censura. E resiste.

A palavra rompe as diferenças. Nela cabe o cânone, o sertão, o inventado. Ela dá pauta aos iletrados. É a prova viva da criatividade. Acredita que a diversidade é necessária. Guimarães Rosa, Mia Couto e Valter Hugo Mãe sabem muito bem. A palavra nova é um fenômeno. E resiste.

Contra o avesso da liberdade, a palavra. Contra o conservadorismo reacionário, a palavra. Contra toda forma de opressão, a palavra. A arte e o amor em forma de palavra são pela vida, pelo sonho, pela celebração da humanidade, em todas as suas letras que formam todas as palavras do mundo. Rebeldes e gentis elas são poesia para tempos inóspitos. Necessárias. E resistem.

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Last modified: 23/07/2025

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