Written by 12:23 RESENHA • One Comment

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS: a genialidade de Machado em criar um personagem defunto sem virtudes e sem sal.

Por Bruno Azevedo

Imagine você ser um filhinho de papai com regalias mil, milhares de oportunidades garantidas e, mesmo assim, não realizar grandes feitos na própria vida e na dos próximos?

Imaginou?

Pois é, essa é a história de Brás Cubas e suas memórias póstumas.

Machado cria um romance épico, que funda a escola Realista, nos mostrando não um herói virtuoso, mas o oposto, um personagem cínico, orgulhoso, sem perspectiva de vida profissional e amorosa. Muito característico das pessoas reais que possuem um lastro econômico parecido, não é?

É aí que está a realidade sagaz desta obra.

Afinal, Brás Cubas poderia ser qualquer um que nasceu em berço de ouro e, mesmo assim, esse mesmo público abastado abraçou esse romance com vigor. Machado fez uma crítica e esfregou na cara todos com muita sutileza e elegância, o que torna essa obra maravilhosa.

Não cabia a outra pessoa contar a história do Cubas. É o próprio defunto autor que conta sua história de não realizações e frustrações.

Como disse, o personagem principal foge dos ideais românticos do herói, munido de grandes feitos e virtudes. Brás Cubas tem defeitos e os mostra de forma cínica, satírica, às vezes, dramática.

Nada de seus objetivos em vida dão certo: não há realização do emplastro, não há carreira como advogado, como político, como assessor, como dono de jornal… nada na vida desse homem se concretiza com sucesso.

A vida amorosa é outro furor de insucessos. Nenhuma mulher está à altura de seu amor. Até tirar sarro de uma pretendente deficiente, ele o faz. A única dama que realmente o interessa é casada com seu amigo. Paixão esta que ele queria levar adiante. Realmente um protagonista que escapa das amarras românticas do altruísmo e adentra de cabeça no egoísmo pueril.

Percebam, Machado esfrega esse protagonista na cara da sociedade abastada e esse público o acolhe de pronto. É genial!

Ao término dessa leitura, percebo como o autor recorre a uma estratégia inteligente e sagaz para tirar sarro daqueles que se sentem superiores por ter dinheiro, mas que, em seu interior, morrem fracassados. Assim como Brás Cubas.

Ele viveu, sim, gastando toda a herança do pai rico, mas morreu fracassado, sozinho e desiludido!

“Ao verme que roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico como saudosa lembrança estas MEMÓRIAS PÓSTUMAS”.

Machado de Assis é elegante, é bruxo, é perspicaz… é genialidade!

Recomendo demais essa obra brilhante. Boa leitura!

Não perca nossas novidades!

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

Visited 21 times, 1 visit(s) today

Last modified: 17/09/2025

Close

Olá Aortano👋,
que bom te ver por aqui.

Inscreva-se e receba em primeira mão a nossa newsletters.

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.