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UM DEFEITO DE COR: um retrato histórico e visceral sobre o processo de escravização no Brasil

Por Bruno Azevedo

“⁠Acho que para você, ser branco não era ter a pele clara, mas ter a alma má”.

Confesso que demorei um pouco para digerir as quase mil páginas que tinha em mãos. Não que este seja um livro difícil do ponto de vista da leitura, muito pelo contrário, a narrativa é escrita de forma fácil e fluida. No entanto, o nó que eu sentia na garganta era do ponto de vista da temática. Afinal, testemunhar a crueldade do processo de escravização de nossos ancestrais é dolorido. Machuca a alma e aperta o coração.

Essa, talvez, seja a resenha mais emotiva que escreverei para vocês. Pois foi assim que fiquei quando terminei essa leitura: extremamente emotivo.

No livro, acompanhamos a trajetória de Kehinde, uma menina africana que é sequestrada e trazida ao Brasil em um navio negreiro e vai viver escravizada por grande parte de sua vida na Bahia. Em sua história, acompanhamos a protagonista tentando entender, ainda criança, que há humanos considerados “superiores” a outros por ter a cor da pele diferente à dela. Que há crueldade e perversidade na estrutura social brasileira que via os brancos como detentores de poder absolutos.

Em sua jornada, acompanhamos a história de Kehinde através de seus relatos, descobertas e aprendizados. Testemunhamos seu sofrimento, suas angústias e suas tragédias, mas também suas alegrias, seus amores e sua superação em conseguir sua carta de alforria. Religiosidade, política, maternidade, amores, decepções e, sobretudo, resistência, simboliza a trajetória de nossa protagonista ao longo das páginas.

O lindo desse livro é que há uma união intrínseca entre os pretos da época, que se unem em vários momentos para conseguir não somente a sua liberdade, mas a de todos à volta. A liberdade individual significava pouca coisa se não houvesse a liberdade coletiva. Afinal, estar livre não significava viver sem a opressão de ser uma pessoa preta em um país racista e escravocrata.

“⁠Ele disse, e disso eu nunca me esqueci, que quem tem amigos tem todo o resto que merece ter, o que pude comprovar em muitas ocasiões”.

A personagem Kehinde foi inspirada em Luísa Mahin, que teria sido mãe do poeta Luís Gama e participado da célebre Revolta dos Malês, movimento liderado por escravizados muçulmanos a favor da Abolição.

Este é um livro que possui uma intensa pesquisa documental histórica, algo extremamente positivo para se conhecer e se aprofundar no período político e social da época.

A volta para o continente africano e tornar-se uma empresária bem-sucedida, apesar de todo sofrimento vivido, é uma linda mensagem àqueles que passaram por diversas tragédias na vida e tiveram a possibilidade de se reerguer apesar das intempéries.

“A minha vida seguiu um caminho e fui me deixando levar para muito longe do que tinha imaginado. E isso foi bom para mim, que tinha conseguido coisas com as quais os pretos nem sonhavam, não porque sonhassem pequeno, mas porque não sabiam que tais sonhos eram possíveis.”

Esta é uma obra que, em minha opinião, deveria ser lida nas escolas e estudada de forma obrigatória, pois reflete um estado de coisas que se perdem ao longo da história se não for retomada assiduamente.

Recomendo fortemente essa leitura e espero que vocês, assim como eu, possam se encantar, sofrer e até chorar, com um passado cruel, mas que tem reflexos até os dias atuais por meio de atos racistas e com origens perversas.

Boa leitura!

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Last modified: 01/09/2025

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