Por Olga Pessoa

Recebi com o coração apertado, a notícia de que Rita Von Hunty fará uma pausa em seus trabalhos de educação no YouTube. E como não compreender? Vivemos tempos em que o horror é televisionado e naturalizado: o genocídio em Gaza e a escalada do fascismo pelo mundo se transformam em notícias diárias. Diante de tanta repetição, corremos o risco de ficarmos cegos — anestesiados — diante da dor e da injustiça.
Rita, com a lucidez que sempre a caracterizou, nos lembra que é necessário também cuidar de si. Silenciar, reconectar-se física e mentalmente, preservar a própria integridade para, quem sabe, voltar inteira e fortalecida. Esta pausa não é uma fuga; é um ato de resistência e de amor-próprio, um gesto que se recusa à anestesia coletiva.
Quando o horror se repete e a barbárie vira rotina, o perigo não é apenas externo — é interno. O risco é que a indignação se dissolva em hábito, que a empatia se desgaste, que a consciência se acomode.
Conheci Rita no YouTube e fui imediatamente cativada por sua retórica e inteligência. Com humor e profundidade, ela transforma em aprendizado até os assuntos mais áridos. Tive o privilégio de assistir presencialmente às suas aulas, e cada uma delas é um espetáculo à parte. É impossível sair de um encontro com Rita sem que algo tenha mudado em sua forma de ver o mundo.
O que aprendi com ela não cabe apenas em palavras. São frestas abertas para enxergar a realidade com mais coragem, crítica e sensibilidade. O que Rita planta em seus alunos e espectadores não se perde no silêncio; germina, alimentando olhares atentos e corações despertos.
Estive com Rita e com Guilherme e posso afirmar: admiro e amo os dois. Descansar, cuidar de si e preservar a lucidez não é apenas um direito; é um ato de resistência política e de esperança. Que esta pausa lhe seja fértil, e que o retorno — se houver — nos encontre igualmente atentos, mais vivos e prontos para resistir.
Arte CULTURA Literatura Livros
Last modified: 26/09/2025