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Torto Arado: a literatura a serviço da liberdade num país ainda preso às amarras da escravidão

Um dos aspectos mais ricos da literatura é fazer reverberar vozes muitas vezes silenciadas.

Um dos aspectos mais ricos da literatura é fazer reverberar vozes muitas vezes silenciadas. Como uma espécie de porta-voz, os livros nos mostram realidades por vezes desconhecidas do grande público, ainda mais o público cosmopolita, acostumados aos afazeres das grandes metrópoles.

Pois bem, eis que surge uma voz que, assim como algumas reportagens nos telejornais, bradando uma denúncia sobre, ainda neste século, haver trabalhos análogos à escravidão. Lembro-me claramente de assistir a essas reportagens com assombro e tristeza. Como pode, depois de tantos anos, ainda haver pessoas cativas no nosso país?

Esse é o tema principal de Torto Arado, obra escrita por Itamar Vieira Júnior, vencedora de inúmeros prêmios como Oceanos e Jabuti.

Na história, acompanhamos a vida das irmãs Bibiana e Belonísia, que vivem nas profundezas do sertão baiano, vivendo dificuldades e desafios para sobreviver. Sim, talvez esta seja a palavra que define os moradores daquela localidade: SOBREVIVÊNCIA. 

Esta é uma história que retrata a vida difícil do meio rural. A labuta do dia a dia, o sofrimento do trabalho pesado, as incertezas da sobrevivência no campo, a alegria de conseguir encontrar alegria e contentamento com tão pouco. 

Entretanto, o livro mostra a realidade de um povo que tem na fé nos ‘encantados’ uma cultura rica em tradições, o respeito pela espiritualidade e pela terra, o amor e a perseverança de lidar com a natureza e o divino.

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O livro trás questões importantes como a realidade do povo preto na zona rural pós escravidão: o abandono e o descaso de um povo sem oportunidade e que tinha como única opção de sobrevivência trabalhar nas fazendas dos brancos sem ter remuneração ou direitos; o regime análogo à escravidão que era mascarado como ‘liberdade’; a espoliação da produção dos trabalhadores que ganhavam seu sustento nas roças; o sentimento de dar vida a uma terra através do trabalho, que não é de direito legal dos trabalhadores.
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Esta é uma obra que possui muito mais detalhes que esta humilde resenha. Recomendo fortemente que vocês leiam, reflitam, e tenham um outro olhar da realidade de várias pessoas que ainda hoje vivem nos campos, especialmente às do sertão baiano. 

Por: Bruno de Azevedo

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Last modified: 29/07/2024

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