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A Literatura como ferramenta de conscientização e transformação social no combate ao abuso infantil

Assim como toda forma de arte, a Literatura não tem e nem deve ser estritamente utilitária. Ela transcende a mera função de entreter ou educar; é uma expressão profunda das experiências humanas, capaz de tocar a alma e desafiar as convenções sociais.

“A imaginação tenta um futuro”.- Gaston Bachelard

por Danielle Santos de Freitas

Assim como toda forma de arte, a Literatura não tem e nem deve ser estritamente utilitária. Ela transcende a mera função de entreter ou educar; é uma expressão profunda das experiências humanas, capaz de tocar a alma e desafiar as convenções sociais. No entanto, é precisamente essa capacidade de ir além do utilitarismo que torna a literatura uma poderosa ferramenta de conscientização e transformação social, especialmente no combate ao abuso e à exploração sexual infantil.

A literatura, em sua essência, é um reflexo da comunicação humana, capaz de transcender o tempo e o espaço, oferecendo janelas para mundos diversos e, ao mesmo tempo, espelhos que refletem nossas próprias realidades.

Abordar temas sensíveis como este na literatura pode parecer, à primeira vista, uma tarefa árdua e delicada. No entanto, é precisamente essa representação que possibilita a visibilidade e o entendimento de todas as nuances envolvidas nesses traumas. 

Em um cenário de silenciamento e invisibilidade, é a ludicidade que irá iluminar essas experiências dolorosas e silenciosas da vida, aproximando as crianças do assunto através de metáforas que sejam do entendimento delas. Como elas  ainda não possuem habilidades linguísticas totalmente desenvolvidas, dependem muito da imaginação para processar e assimilar suas experiências. Elas usam a imaginação para compreender e lidar com a complexidade do mundo ao seu redor, especialmente quando não conseguem expressar tudo verbalmente.

No Brasil, a proteção das crianças e adolescentes é garantida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma lei federal promulgada em 13 de julho de 1990. O ECA estabelece direitos fundamentais e prevê medidas de proteção contra abusos e violências, incluindo a exploração sexual. Segundo o ECA, é dever de todos – família, comunidade, sociedade em geral e poder público – assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária.

A violência e os abusos contra crianças e adolescentes no Brasil são problemas graves e persistentes. Dados do Disque 100, serviço de denúncias de violações de direitos humanos, indicam que milhares de casos de abuso sexual infantil são registrados anualmente. A violência sexual contra crianças e adolescentes representa cerca de 70% das denúncias recebidas, destacando a urgência de enfrentar essa questão de forma eficaz e contínua.

A representação do abuso e da exploração sexual infantil na literatura é crucial para dar visibilidade a essas questões. Ao narrar a jornada de personagens que enfrentam tais adversidades, a literatura humaniza essas experiências, permitindo que leitores compreendam a profundidade dos traumas vividos pelas vítimas e a importância de procurar ajuda. A literatura, além de narrar, tem um papel essencial na prevenção desses abusos. Livros que abordam a importância do consentimento, do respeito ao próprio corpo e dos limites pessoais fornecem às crianças e adolescentes as ferramentas necessárias para se protegerem e reconhecerem situações de risco. Ao educar desde cedo sobre esses conceitos, a literatura ajuda a construir uma geração mais consciente e preparada para evitar que esses abusos sejam cometidos.

Livros direcionados a crianças e adolescentes são cruciais para aqueles que estão começando a navegar suas relações interpessoais, abordando o consentimento de maneira clara e acessível, ajudando os jovens a entenderem a importância do respeito mútuo em todas as interações. Essas obras também tratam do respeito aos limites pessoais e da comunicação clara, oferecendo recursos valiosos para a educação sobre consentimento.

Abaixo uma pequena lista de livros indicados sobre o assunto que pais, educadores e bibliotecários podem trabalhar com as crianças:

  • Segredo Segredíssimo – Ovídia Barros, Geração Editoria, 2011
  • Pipo e Fifi – Caroline Arcari, Caqui Editora, 2018
  • A Mão Boa e a Mão Boba – Renata Emrich
  • Não Me Toca, Seu Boboca – Andrea Taubman, Aletia Editora, 2021
  • Meu Corpo, Meu Corpinho! – Roseli Mendonça Editora Matrescência, 2024
  • Tuca e Juba – Ensinando Consentimento para Adolescentes – Julieta Jacob, Caqui Editora, 2021
  • Leila – Tino Freitas, Editora Abacatte, 2019

Desse modo, a literatura é uma preciosa aliada no combate ao abuso e à exploração sexual infantil. Para além de incentivar a imaginação por meio de metáforas, desperta a curiosidade, prepara a criança para a criticidade e valoriza diversas manifestações artísticas e culturais. Promovendo a autonomia, o autoconhecimento, a autoestima, o cuidado com a saúde física e mental, a compreensão e o respeito pela diversidade humana, o reconhecimento de suas emoções e das emoções dos outros.

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Last modified: 13/08/2024

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