Por Shirlei Gall
A arte, muitas vezes, é associada ao grandioso, ao extraordinário, ao intocável. Porém, é no cotidiano que ela ganha sua forma mais íntima e visceral. Nas pequenas coisas – seja um reflexo dourado no vidro da janela ao entardecer, o som rítmico da chuva sobre o telhado ou o balançar sutil de uma folha ao vento – é onde reside uma fonte inesgotável de inspiração.
O cotidiano é o cenário onde a vida acontece, com sua aparente simplicidade escondendo cada pequeno detalhe que pode transformar o olhar de quem sabe ver. A criatividade brota quando permitimos que esses momentos nos toquem, quando damos valor ao ordinário e o elevamos ao extraordinário.
Para o artista, o cotidiano pode ser tanto um museu quanto um laboratório. A disposição das frutas na cozinha, o desgaste das pedras em uma calçada ou até mesmo a conversa cruzada de estranhos em um ônibus podem ser pontos de partida para algo novo. É nesses detalhes, muitas vezes ignorados, que encontramos narrativas, texturas e sentimentos prontos para serem transpostos para uma tela, uma poesia, um conto ou qualquer outra forma de expressão.
Essa percepção, porém, não surge espontaneamente. É preciso desacelerar, cultivar um olhar atento e permitir-se ser capturado pela beleza das coisas simples. Na arte, o mais banal pode se tornar profundo. Um caderno de anotações sempre à mão, um celular para registrar imagens ou um breve momento de pausa para contemplar podem ser aliados extremamente preciosos nesse processo.
A beleza no cotidiano é democrática, pois está ao alcance de todos. Ela nos lembra que a arte não precisa estar apenas nas galerias ou nos museus. Ela vive nos gestos, nos objetos e nos instantes que compartilhamos com o mundo.
Ao abraçar o cotidiano como inspiração, criamos uma conexão mais profunda com a vida e com nós mesmos. Afinal, arte não é apenas o que fazemos, mas também a forma como vemos e sentimos o mundo ao nosso redor.
Last modified: 09/12/2024