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A importância da escrita infantil

Se toda a escrita funciona como uma espécie de purga interior e se materializa num funil de sentimentos aberto ao mundo, todo o impacto de um autor de literatura infantil incide única e exclusivamente em contar histórias.

Por: Márcia Vieira Ávila com o testemunho da Susana Machado autora de infantil e a criadora da Fórmula-S.

Se toda a escrita funciona como uma espécie de purga interior e se materializa num funil de sentimentos aberto ao mundo, todo o impacto de um autor de literatura infantil incide única e exclusivamente em contar histórias empoderadoras e de formação de carácter dos pequenos leitores – ou somente ouvintes – desde muito cedo.

Para consolidar esta minha ideia, sobre a importância da escrita de literatura infantil, pedi o testemunho da escritora e mentora portuguesa, Susana Machado, no seu papel de autora de livros e de jogos infantis.
A Susana é da opinião de que

“os livros permitem à criança compreender o ‘Eu’ e o mundo e tomar consciência do mesmo, enquanto permitem desenvolver o seu pensamento crítico”.

Desde os primeiros meses, é possível e benéfico que as crianças estejam em contacto com histórias, seja através da oralidade ou dos livros. Nesta fase não é tão importante o conteúdo que as mesmas transmitem, mas a criação de rotinas e o despertar do interesse para os livros e histórias.

À medida que a criança cresce, verificamos que a capacidade de fantasiar e criar histórias é uma característica espontânea, que deve ser valorizada e incentivada.

A família, sendo o primeiro elo de ligação da criança ao mundo, deve ser também a primeira incentivadora dessa característica, ao proporcionar o primeiro contacto com os livros e as histórias.

Sendo um recurso frequentemente usado nas famílias e nas salas de aula e sendo relativamente acessível, pode permitir uma primeira abordagem aos problemas do mundo de uma forma lúdica, estimulante e inclusiva.

Os livros permitem ainda que a criança se torne um explorador activo das questões, fazendo a ponte entre a sua realidade, as expectativas e as experiências e o “outro” – o mundo exterior.

Ao apresentarem uma linguagem (escrita e imagética) convidativa e compreensível à criança, constituem um recurso com imenso potencial, aliando a componente didáctica à lúdica.

Mas, apesar de todos os benefícios que a leitura pode trazer, a melhor forma de estimular o gosto pela leitura será talvez… não obrigar! A leitura deve ser (sobretudo numa primeira fase) um momento divertido e de prazer, e não uma obrigação.

Para isso, é importante que pais e educadores sejam capazes de guiar a criança nesta aprendizagem de uma forma leve e recreativa, estabelecendo, dessa forma, a ponte entre os dois mundos: o de encantar presente nas histórias e o mundo real.

Numa perspetiva, enquanto escritora, a Susana Machado partilha que:

“Há muito que sentia um desejo profundo de deixar uma marca positiva no mundo. Descobri que através das minhas palavras e livros podia fazê-lo. Quando encontrei a escrita encontrei a minha voz interior. Foi através desta que me reconectei com a criança sonhadora, que outrora fora e os valores que sempre tinham vivido dentro de mim e esquecera. Mas, que quero passar aos meus filhos e partilhar com o mundo.

Todas as minhas histórias procuram transmitir uma mensagem positiva, construtiva,
pedagógica, que nos leve a questionar coisas importantes na vida e nos ajude a construir-nos como seres progressivamente melhores, num mundo que pode e deve ser melhor.

Porque acredito verdadeiramente que a leitura tem esse poder! Escrevo com o propósito de educar para a mudança, inspirando a sustentabilidade e solidariedade.

Descobri na minha escrita uma forma de potenciar momentos em família e ajudar a criar as memórias de infância felizes que tive. De ajudar as crianças a acreditarem na magia e no poder que vive em cada um deles. De transmitir mensagens positivas e construtivas de valores e comportamentos que estão na base da mudança e de um mundo mais consciente, mais justo, solidário e sustentável.’’

No seu papel de mentora de autores infantis, Susana Machado julga que as palavras têm o poder de mudar o mundo. Há por aí tantas histórias belas e empoderadoras à espera de serem contadas.

Para a Susana, ajudar a dar vida às histórias que outros autores têm guardadas dentro de si e transformá-las em livros com mensagens positivas e educativas é uma forma de levar o propósito mais além. De atingir mais rapidamente a mudança que o mundo precisa.

“Por outro lado, apaixona-me, e acho fundamental, ajudar os autores a redescobrirem a sua própria voz, conectarem-se com a criança que um dia foram. Muitas vezes, os autores apresentam ideias muito válidas, mas deixam-se sabotar pelas crenças, pelos medos e pelos seus filtros de adulto. Eu acredito que é essencial fazer esse trabalho interno e deixar sair a criatividade e a capacidade de sonhar e acreditar que todos temos em crianças. Dessa forma, é possível uma maior conexão com o leitor infantil’’.

Se por um lado temos a importância da escrita infantil apresentada às crianças desde tenra idade, e entenda-se este contacto inicial pelas mãos dos respectivos pais ou educadores, ou seja, dos adultos que rodeiam as crianças; por outro lado, temos a importância das ilustrações e no papel fundamental que todo o grafismo tem no desenvolvimento da própria criança.

Podemos isolar uma imagem e fazer com que esta contenha em si uma história completa – com pouco ou nenhum texto – como é o caso dos livros somente ilustrados ou, se quiserem, chamar de livro-álbum. Este tipo de livro também tem leitores, sim. Porque mesmo na inexistência de uma história escrita, eles contam toda uma narrativa e ainda dão asas à imaginação para várias interpretações e infinitas variações da história ali ilustrada.
Outra forma de estimular a criatividade das crianças a inventar histórias, para as escreverem ou até servirem como um impulso para se tornarem contadores de histórias, são as cartas de desbloqueio criativo. Estamos aqui a falar de baralhos de cartas com quase infinitas permutações entre elas, que permitem desenvolver várias habilidades enquanto a criança joga. Sim, porque estas cartas não deixam de ser um jogo e quando devidamente exploradas até para os escritores são fundamentais na criação de personagens, conflitos e temas.

No mundo dos jogos combinamos tanto o poder da imagem, como toda a magia que existe copulada aos textos que fundamentam e alicerçam os jogos, como os jogos de tabuleiro, que têm sempre um vasto texto criativo e explicativo muitas vezes pontuado com dados históricos, distópicos ou não, fantasiosos ou não.

E até acrescento que a literatura infantil não é exclusiva para crianças. Em primeira instância são os pais que escolhem os livros para os seus filhos, quer seja pelo teor, que pela mensagem como pelas imagens. Comecemos por cativar os mais pequenos a ler, dando o exemplo de lermos e de apreciarmos um livro, proporcionando, assim, aos mais pequenos o contacto com a leitura desde sempre.

Nota: este artigo foi escrito em PT-PT seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico

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Last modified: 30/08/2024

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