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Achismos de Domingo

Crônicas semanais por Emerson Leandro Silva

MINHA MÁ IMPRESSÃO SOCIAL DE HOJE

Quando falamos de evolução enquanto espécie, geralmente tratamos da parte biológica, sobre a qual discutem criacionistas e darwinistas. No entanto, como não domino nenhuma dessas duas vertentes, meu interesse se volta para o estudo das manifestações sociais da nossa evolução enquanto espécie.

Eu explico: a meu ver, os laços de afeto foram preponderantes para que sobrevivêssemos e, em grande medida, dominássemos outras espécies. Ocorre que a notória evolução biológica parece ter modificado a maneira como expressamos — ou dissimulamos — esse afeto.

A impressão que tenho é que, como já não temos mais inimigos claros para caçar ou dos quais fugir e, ainda assim, mantemos nossos instintos intactos, acabamos, na atual realidade — onde, em grande medida, tudo é abundante — direcionando essa sede pela luta/fuga contra nós mesmos.

Isso explica, em parte, as inúmeras ações visivelmente irracionais que, em nível macro, nos ameaçam enquanto espécie (desmatamentos, assoreamento de rios, emissão de carbono em excesso etc). E, no campo das micro-relações, nos impelem a mentir, manipular ou a praticar a auto sabotagem. Minha leitura não pretende explicar a complexidade do mundo ou da condição humana, mas sim expressar uma inquietude natural de quem observa o cotidiano.

“Há algo de podre no reino da Dinamarca” — e penso que parte desse mau cheiro advém da maneira como construímos (ou deixamos de construir) nossos laços de afeto. Se minhas observações estiverem corretas, a tendência é que esse cenário piore cada vez mais com a ascensão do uso utilitário das inúmeras Inteligências Artificiais.

Martha Gabriel, citando a Harvard Business Review, afirma que, nos últimos 12 meses, a maneira como temos utilizado as IAs em 2025 está diretamente relacionada à busca por bem-estar emocional, organização da vida pessoal e encontro de propósito. Completam a lista os temas “aprendizado autodirigido” e “criação de códigos”. Exceto por este último, todos os tópicos refletem uma busca por afeto — ou pela ausência dele.

A tecnologia não está nos distanciando dos outros. Somos nós que parecemos ter nos perdido no processo evolutivo e, sem saber onde canalizar nossas forças instintivas, voltamo-nos contra o outro. A grande contradição é que foi justamente o convívio com o outro que, em grande parte, nos permitiu sobreviver ao longo dos séculos como uma espécie dominante.

Minha perspectiva pode soar um tanto fatalista, eu sei. Mas reafirmo aqui que meu compromisso é falar abertamente sobre minhas impressões — e não cravar de forma maniqueísta o que é ou não verdade. Talvez o que estejamos vivenciando seja apenas mais uma transformação do tecido social e, com ela, uma natural modificação das relações afetivas.

O que me preocupa é que, a cada dia, parece que estamos mais distantes, medrosos, violentos e apressados por encontrar respostas simples para questões complexas. Tudo parece ser “para ontem”, e quem não acompanha as mudanças frenéticas — e, muitas vezes, superficiais — vai sendo deixado para trás ou considerado um pária.

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Last modified: 05/05/2025

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