Por: Daise Priscila
Conceição Evaristo é uma das vozes mais poderosas e respeitadas da literatura brasileira contemporânea. Escritora, poetisa e ensaísta, ela nasceu em Belo Horizonte, em 1946, em uma comunidade pobre. Com uma trajetória marcada pela superação e luta contra a desigualdade, Evaristo transformou suas vivências em literatura, cunhando o termo “escrevivência” – uma escrita que, além de literária, é também testemunho de sua experiência como mulher negra em um país marcado por desigualdades sociais e raciais. Conceição iniciou a carreira literária mais tarde, publicando seu primeiro livro aos 44 anos, mas rapidamente se destacou e tornou-se um ícone de resistência cultural e identidade.
Conceição Evaristo fala sobre a vivência da mulher negra, abordando temas como racismo, desigualdade, marginalização e a força feminina. Seu trabalho é fundamental para dar voz à população negra e explorar realidades que foram, por muito tempo, invisibilizadas na literatura brasileira. Para ela, a escrita é um ato político, uma ferramenta para revelar as experiências de quem vive à margem. Conceição conecta suas histórias à luta por reconhecimento e igualdade, enfatizando a resistência cultural e a valorização das raízes africanas. Sua importância vai além da literatura: ela é uma figura que inspira jovens escritores e é referência para a luta antirracista no Brasil.
Entre as obras mais conhecidas de Conceição Evaristo estão: Ponciá Vicêncio (2003): Romance que narra a trajetória de uma jovem negra e sua busca por identidade, liberdade e pertencimento.
Becos da Memória (2006): Uma narrativa que retrata a vida nas favelas, destacando os desafios e a beleza que se encontram nas margens da sociedade.
Olhos d’Água (2014): Um dos livros mais aclamados de Conceição, vencedor do Prêmio Jabuti. Trata-se de uma coletânea de contos que revela a dureza da realidade vivida por personagens negros e marginalizados, ao mesmo tempo que exalta sua resistência.
Além do Jabuti, Conceição foi premiada em vários outros eventos literários, sendo celebrada por sua contribuição à literatura e seu papel como ativista cultural. Em 2018, foi aclamada na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), onde conquistou grande visibilidade e foi ovacionada como uma das vozes mais importantes de nossa literatura.
Falar hoje de Conceição Evaristo é falar também de nova lei Zumbi dos Palmares, é falar de Enem 2024 com uma urgência de dialogar sobre valorização da cultura africana, é falar de cotidiano de muitos e de vozes silenciadas por gerações.
Certidão de óbito
Os ossos de nossos antepassados
colhem as nossas perenes lágrimas
pelos mortos de hoje.Os olhos de nossos antepassados,
negras estrelas tingidas de sangue,
elevam-se das profundezas do tempo
cuidando de nossa dolorida memória.A terra está coberta de valas
e a qualquer descuido da vida
a morte é certa.
A bala não erra o alvo, no escuro
um corpo negro bambeia e dança.
A certidão de óbito, os antigos sabem,
veio lavrada desde os negreiros.
Last modified: 04/11/2024