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Quem ganha em alimentar uma rivalidade imaginária entre escritoras(es) iniciantes e editoras independentes?

Por: Débora Porto

Nos bastidores da literatura, uma narrativa equivocada e desastrosa anda circulando, repetida incansavelmente e sem pudor: a ideia de que escritoras(es) iniciantes e editoras independentes estão em lados opostos. Nessa falácia, de um lado, estariam autoras(es) desanimadas(os), carregando frustrações pela falta de respostas ou pelo desalinhamento entre suas expectativas e as realidades que encontram. Do outro, estariam as editoras, enfrentando uma batalha constante para sobreviver em um mercado extremamente complexo, frequentemente acusadas de elitismo ou exploração.
Mas será que essa rivalidade é genuína? E, mais relevante ainda, quem realmente se beneficia dela?

A verdade é que, quando nos permitimos acreditar nessa suposta oposição, perdemos todos. Escritoras(es) deixam de enxergar editoras como parceiras no processo criativo e editorial, enquanto editoras perdem a chance de acolher vozes novas e necessárias. Essa desconexão só favorece um sistema que lucra com a precarização de ambos os lados: a desinformação, o individualismo e a lógica predatória que transforma sonhos em mercadoria.

Por trás dessa polarização, há um problema maior que muitas vezes passa despercebido: o livro é um produto diferente de qualquer outro. Ele não é apenas um objeto de consumo, mas um veículo de ideias, histórias e sentimentos que têm o poder de transformar vidas e visões de mundo.

Além disso, o livro enfrenta, de forma única, percalços que outros produtos não enfrentam: é extremamente difícil prever se ele será ou não um sucesso. Diferentemente das grandes editoras, que geralmente publicam apostando em autores já consolidados ou com grande engajamento nas mídias, as editoras independentes apostam nos livros. Elas investem no potencial das obras, na força das narrativas e na coragem de dar espaço para vozes que ainda não foram amplamente ouvidas. Esse investimento é possível, muitas vezes, apenas por contar com a mão-de-obra incansável de quem está à frente das editoras.

Essa singularidade exige que o processo de criação e publicação seja tratado com cuidado, respeito e, acima de tudo, colaboração. É fundamental que escritoras(es) compreendam as diferentes formas de publicar um livro e as especificidades de cada uma delas.

Mas aqui está a boa notícia: há espaço para construir pontes. O que nos une é maior do que o que nos separa. Escritoras(es) e editoras têm o mesmo objetivo – levar literatura ao mundo, transformar vidas através da palavra. Para isso, precisamos de mais empatia, mais diálogo e menos competição.

Então, proponho uma reflexão: em vez de alimentar rivalidades, como podemos fortalecer alianças? Como podemos criar espaços de troca, nos quais escritoras(es) compreendam o papel das editoras e editoras valorizem o potencial transformador de novas vozes?

Na Escola de Escritoras e na Editora Polifonia, acreditamos que a resposta esteja no coletivo. Quando nos apoiamos mutuamente, desafiamos as estruturas que tentam nos dividir. Afinal, para nós, editoras independentes, a literatura não é apenas uma forma de prover a vida, mas uma construção conjunta, com cada nova obra publicada sendo uma vitória compartilhada.

Que este editorial seja um convite à colaboração, à escuta e à coragem de reimaginar as relações no mundo literário. Porque, no fim das contas, quem ganha com a rivalidade? Certamente, não somos nós.

Com afeto e resistência,

Débora Porto
Diretora da Escola de Escritoras

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Last modified: 24/02/2025

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