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A Escrita como Cura: Uma jornada de libertação no setembro amarelo

Texto por: Daise Priscila Poema por: Yara Fers

SETEMBRO

se tenho
vincos nos punhos
rios renascentes
 
a cicatriz que
vez ou outra
volta
vaza
diz
 
o trauma
no peito
no útero
na tez
que eu queria de vez
extrair
 
tenho
a força
rio perene
de permanecer
sendo
indo
 
tendo
a mão que me estendes
neste amarelo
setembro

A escrita é um dos mais profundos atos de libertação que o ser humano pode experimentar. Em um mundo que tantas vezes nos pressiona a silenciar as emoções, escrever é como abrir uma porta secreta para um universo interior, onde as palavras têm o poder de curar feridas e resgatar a alma de suas prisões invisíveis. No contexto do Setembro Amarelo, mês dedicado à conscientização sobre a prevenção do suicídio, a escrita surge como um mecanismo de cura e autoconhecimento, capaz de transformar dor em poesia e sofrimento em resiliência.

Ao colocar no papel aquilo que nos aflige, damos forma ao que antes era apenas um turbilhão de sentimentos confusos e sufocantes. Cada palavra escrita é uma peça de um quebra-cabeça emocional que, quando montado, revela o quadro maior da nossa própria existência. Como diz Caetano Veloso, “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome” – e isso inclui a fome de expressão, de dizer o que se sente, mesmo que em silêncio, nas linhas de um caderno.

A escrita nos permite externalizar o que parece impossível de ser dito em voz alta. “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há”, nos lembra Renato Russo. Escrever é amar a si mesmo, é dar voz àquilo que muitas vezes guardamos com medo do julgamento alheio ou da incompreensão. É encontrar, em meio ao caos, uma forma de ressignificar as experiências e abrir espaço para a esperança.

No Setembro Amarelo, a escrita pode ser um farol para aqueles que se sentem à deriva. Assim como em “O Tempo Não Para”, de Cazuza, onde ele canta “Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades”, escrever pode ser a chave para interromper esse ciclo de dor e abrir caminhos para novas possibilidades. Ao transformar o sofrimento em palavras, criamos um registro de nossa luta, que pode servir não apenas como um alívio imediato, mas como um testemunho de superação para nós mesmos e para os outros.

Além disso, escrever sobre nossos sentimentos pode ser um gesto de

autocuidado e um lembrete constante de que não estamos sozinhos. Em “Cuide-se Bem”, Guilherme Arantes nos aconselha: “Cuide-se bem, perigo há em cada esquina, e em cada quina, uma estrada”. A escrita é essa estrada, um caminho que podemos seguir para nos encontrar, para nos proteger e para, no final, nos curar.

No Setembro Amarelo, que possamos utilizar a escrita como uma ferramenta de libertação e cura. Que cada palavra escrita seja um passo em direção à vida, um gesto de amor próprio, e uma afirmação de que a dor, por mais intensa que seja, pode ser transformada em arte, em resistência e em um novo começo. Afinal, como nos lembra Milton Nascimento, “Todo artista tem de ir aonde o povo está”, e talvez, o povo que mais precise das nossas palavras esteja dentro de nós

mesmos, esperando para ser ouvido e, finalmente, libertado.

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Last modified: 02/09/2024

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