Crônicas semanais por Emerson Leandro Silva

CONFISSÕES DO CAMINHO
*[…] Mas desta vez vou falar de homens que por caminhos diferentes daqueles
Procuram também seus objetivos naturais
Também não se estabeleceram, não aceitaram
Não se encaixaram em perversas etiquetas sociais…”
Fazer o que é preciso não é um mantra cuja função é apresentar uma espécie de guia para aqueles que me leem.
É uma confissão.
Estou preso à certeza inescapável de que ser quem eu sou me obriga a tentar, de maneira recorrente, construir meu próprio caminho. Seria muito mais cômodo tentar me encaixar na lista de desejos que a maioria busca para si.
Não os critico; os invejo.
Essa inquietante sensação de querer algo mais sempre me perseguiu como uma maldição inquebrantável. Talvez ler estas palavras te faça supor que há beleza ou profundidade nelas, mas vivê-las certamente não.
Esse descontentamento, essa sensação revoltosa diante de um contexto naturalmente desfavorável a pessoas como eu, é dilacerante. Os que querem pouco ou já estão satisfeitos com o fato de terem acumulado coisas é que são felizes.
Há quem acredite que isso é superficialidade, mas imagino que essa definição seja resultado do ego inflado daqueles que supõem que, só porque há coisas que a maioria deseja, elas valem menos por isso.
É como se o bom, o certo e o belo só fossem possíveis na escassez.
Penso que a vida é diversa; os gostos variam em cor, cheiro e tamanho. Ninguém pode definir o que é ou não digno de ser valorizado.
Acredito que viver tem a ver com acumular achismos, pois, no fim das contas, todos estão perdidos — apenas acham que sabem o caminho.
*Trecho da música A carne dos Deuses da banda Scambo
Last modified: 17/03/2025