Written by 20:14 CRÔNICA

Achismos de Domingo

Crônicas semanais por Emerson Leandro Silva

ADOLESCÊNCIA: UM RETRATO DE NOSSA LETALIDADE E VIOLÊNCIA

O fato de a vida ser carregada de incertezas é o que, em essência, nos apavora. Grande parte das coisas que fazemos, temos e, muitas vezes, somos, é condicionada pela certeza ou pela busca da ideia de que temos controle, mas, obviamente, isso nem sempre é possível.

Viver é a maior das incertezas do universo, e essa simples ideia — de que nossas expectativas a respeito dela não podem ser alcançadas —, em grande parte, é o que deveria lotar os consultórios psicológicos. Essa ânsia por controlar as coisas tem uma raiz milenar evidente. Nosso instinto de sobrevivência, em uma época em que habitávamos um mundo de escassez, dependia exclusivamente do controle das situações e do cooperativismo. O problema é que, no mundo atual, cada vez mais veloz e abundante, controlar e cooperar se tornou cada vez mais difícil, senão impossível.

A IMPRESSÃO É QUE AS COISAS SÓ PIORAM

Sem percebermos, estamos construindo uma sociedade cada vez mais frágil diante da quebra de expectativas, que reage muito mal à evidente limitação do controle sobre nossos futuros e continuamente foge da responsabilidade de ser protagonista da vida e de enfrentar as consequências de suas decisões. A violência e a timidez, por exemplo, sempre compuseram características das gerações anteriores à nossa. No entanto, hoje, a impressão que tenho é a de que a introspecção e os atos violentos (sejam eles simbólicos ou não) têm sido cada vez mais intensos e constantes.

O cenário é o mesmo: um jovem é escolhido por outros jovens como alvo de algum tipo de rejeição por qualquer razão aparentemente tola (tom de voz, roupas, comportamento etc.), e, em vez de contra-atacar de alguma forma, o alvo do bullying tende a optar por se calar, “aguentar” o tranco, ensimesmar-se ou pedir ajuda a um adulto.

O grande problema é que, nesta conjuntura, em que a abundância de oportunidades é cada vez maior, o que antes gerava adultos traumatizados hoje resulta, cada vez mais, em adolescentes que reagem de maneira excessivamente violenta. Conseguem uma faca ou uma arma de fogo e matam os colegas que praticavam as brincadeiras de mau gosto, por exemplo.

Não é preciso ir muito longe, infelizmente. Em outubro de 2024, um jovem de 14 anos matou a tiros três colegas de classe e, logo em seguida, tirou a própria vida em Heliopólis, interior da Bahia. O que o motivou foi o bullying sofrido. Há mais de vinte anos, um caso semelhante — o massacre de Columbine — chocou o mundo. Mas, nos Estados Unidos, onde a cultura do porte de arma é mais flexível, podia-se esperar com certa precisão que isso ocorreria. No entanto, no caso de Heliópolis, essa previsão não era tão fácil, e, ainda assim, um massacre semelhante aconteceu.

A ponte que une esses dois casos tem relação com a facilidade de acesso a armamentos e com a reação violenta e desproporcional a uma provocação de colegas. Esses dois temas compõem a série Adolescência, disponível na Netflix e fenômeno mundial na plataforma. Ela se configura como um exemplo perfeito de que a escalada da violência alcançou patamares alarmantes. Para os pais, certamente, é algo aterrorizante — ou uma red flag que os manterá atentos ao comportamento de seus filhos. Assista, vale a pena.

Não perca nossas novidades!

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

Visited 4 times, 1 visit(s) today

Last modified: 17/04/2025

Close

Olá Aortano👋,
que bom te ver por aqui.

Inscreva-se e receba em primeira mão a nossa newsletters.

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.